Igreja no Brasil, presença viva, comunidade que
evangeliza. Igreja em estado permanente de missão. Urgência de renovação
da paróquia. Para tanto, faz-se necessária uma conversão pastoral:
abandono de um caminho e a escolha de outro.
“Ser discípulo-missionário de Jesus Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida”.
Retorno à raiz evangélica >>> nasce como comunidade.
Modelo>>> Jesus Cristo e o seu modo de organizar e de
orientar a vida em comunidade em vista do Reino de Deus. Primeira
referência do texto é a vida e a prática de Jesus Cristo. Depois, a
tradição cristã. Desafios. Propostas Pastorais.
CAPITULO I
PERSPECTIVA BIBLICA
Inspiração: comunidades que o próprio Jesus Cristo fundou por meio dos apóstolos, na força do Espírito Santo.
1.1. Recuperar a comunidade>>> no tempo de Jesus a
comunidade estava se desintegrando. O fechamento era reforçado pelo
sistema religioso, Jesus alargou o horizonte da família.
1.2. A nova experiência de Deus: o Abbá. Pelo seu jeito de ser
e de viver, de acolher as pessoas e de revelar o seu grande amor, Jesus
era o retrato vivo de Deus. Ele revela a face do Pai. Tinha uma grande
intimidade com o Pai. Rezava todos os dias, nos finais de semana,
peregrinações a Jerusalém. Neste ritmo de oração, Jesus vivia impregnado
pela Palavra de Deus.
1.3. A missão do Messias. No dia do seu batismo é revelada a
sua missão: servo enviado de Deus... e não o Messias glorioso. Jesus
realiza sua missão anunciando a Boa Nova de Deus. Revela-se como o
Messias que realiza a esperança dos pobres.
1.4. A novidade do Reino. Jesus atraía muita gente e pregava
uma nova proposta de vida: todos são irmãos e irmãs; há igualdade entre
homem e mulher; há partilha dos bens; relacionam-se como amigos e não
como empregados; o poder é exercido como serviço; é dado o pode de
perdoar e reconciliar – comunidade, como lugar de perdão; se faz oração
em comum; se vive na alegria.
1.5. Um novo estilo de vida comunitária. A alegria da
renovação comunitária se espalhou pela Galiléia e atraiu muita gente.
Jesus chamou 72 discípulos com algumas recomendações: 1.Hospitalidade;
2. Partilha; 3. Comunhão da mesa; 4. Acolhida aos excluídos. O Reino de
Deus implica uma nova maneira de viver e de conviver, nascida da Boa
Nova que Jesus anunciou.
1.6. O novo modo de ser pastor. Com bondade e ternura, ele
acolhia o povo. Seu agir revela um novo jeito de cuidar das pessoas.
Jesus recupera a dimensão da fé – ele visitou as pessoas. Ele transmitiu
a Boa Nova, indo ao encontro das pessoas, estabelecendo com eles uma
relação direta da prática do acolhimento. Tem especial cuidado com os
doentes. Anuncia o reino para todos. Não exclui ninguém. Supera as
barreiras de sexo, religião, etnia e de classe.
1.7. O ensinamento novo. A pregação de Jesus era muito ligada
ao cotidiano das pessoas. Ensinava de forma interativa... ele falava com
autoridade... e sua própria vida era o testemunho eloquente do que
ensinava.
1.8. A nova Páscoa. Na manhã da Páscoa, a comunidade dos
discípulos fez a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. N a
Páscoa, a morte foi vencida.
1.9. Pentecostes: o novo Povo de Deus. Reveste os discípulos
do seu poder celeste para que se tornem testemunhas universais do
evangelho... pagãos acolhem com alegria a boa nova do Reino. Criam novas
comunidades pela filiação divina. O comportamento filial do cristão é
fruto do Espírito. A comunidade cristã é a testemunha de Cristo até os
confins da terra.
1.10. A nova comunidade cristã (At 2,42). Inspiração para toda a
comunidade cristã, quatro colunas básicas: - o ensinamento dos apóstolos
(não mais a escuta aos fariseus); a comunidade – indica a atitude da
partilha dos bens – ‘um só coração e uma só alma’; a fração do pão – era
feita nas casas; as orações – permaneciam unidos a Cristo.
1.11. A missão. As testemunhas pascais recebem o mandato
missionário do próprio Senhor. As comunidades nasciam em meio a muitas
tensões, conflitos e perseguições. Judeus resistiam e os pagãos se
convertiam. Os discípulos eram reconhecidos por viverem em comunhão.
Comunhão e missão estavam profundamente unidas.
1.12. A nova esperança: a comunidade eterna. A comunidade cristã
caminha rumo à pátria Trinitária. Trabalhar por mundo melhor esperando a
plena realização dos novos céus e da nova terra. Essa expectativa é
marcada por uma tensão entre o seguimento de Jesus Cristo no cotidiano e
a certeza da sua vinda gloriosa. O Reino definitivo pode ser designado
como a Pátria Trinitária, a comunidade perfeita onde Deus será tudo em
todos e Cristo entregará toda criação ao Pai. A Igreja brota da Trindade
e é nesta perspectiva trinitária que ela fundamenta a sua vida
comunitária.
CAPITULO II
PERSPECTIVA TEOLÓGICA
A compreensão da comunidade para a fé cristã deriva
da vida e do ensinamento de Jesus, assimilados pelos apóstolos e pelas
primeiras comunidades.
Jesus inicia seu ministério chamando os discípulos a viverem com ele.
A dimensão comunitária é fundamental para a Igreja, pois se inspira na
própria Santíssima Trindade, a perfeita comunidade de amor. Sem
comunidade, não há como viver autenticamente a experiência cristã.
2.1. A Igreja Doméstica.
Na Bíblia, paróquia significa: paroiká= migrante; paroiken= viver
junto e paroikós= próximo, junto. A paróquia é uma ‘estação’ onde se
vive de forma provisória, pois o cristão é caminheiro. Para Paulo existe
a Igreja Doméstica – as comunidades se reuniam na casa dos cristãos.
Lugar de acolhida, para ouvir a palavra, repartir o pão e viver a
caridade.
2.2. O surgimento das paróquias.
Nos primeiros séculos, os cristãos se reuniam em comunidades
domésticas. A antiga relação igreja-casa se enfraquece e se faz a
introdução das paróquias territoriais. A partir do século IV aparece de
um lado a diocese e de outro, a paróquia. Eram originariamente paróquias
rurais que logo se estenderam pelas cidades. Nascem de uma preocupação
pastoral e missionária.
Século XVI, Concilio de Trento: pároco tenha residência fixa;
seminário para formar o clero; estabelecer a territorialidade dos
cristãos e a criação de novas paróquias. O modelo de Trento chegou até
os nossos dias.
A preocupação principal da paróquia não foi com a vida comunitária,
nem a pregação, nem o testemunho, nem o serviço mas o culto. Daqui
decorre a redução da vida comunitária, com menos força missionária e
atuação profética.
2.3. A paróquia no Concilio Vaticano II.
Insiste no valor da Igreja reunida em assembleia eucarística. Ela é
fonte e cume de toda vida crista. A paróquia só pode ser compreendida a
partir da diocese, pois ela é uma ‘célula da diocese’. A paróquia
encontra no conceito de comunidade a autocompreensão e sua realidade
histórica. A Igreja é o povo de Deus reunido na unidade do Pai, do Filho
e do Espírito Santo. É preciso perceber a riqueza do que se entende por
comunhão. Comunhão com Deus, com os bens salvíficos - eucaristia. Tem
sua origem na Santíssima Trindade.
A comunidade tem força profética no mundo contemporâneo marcado por
traços profundos e individualismo. É preciso recuperar as relações
interpessoais e de comunhão como fundamento para a pertença eclesial.
Vaticano II = 1. Passagem do territorial para o comunitário; 2. Do
principio único do pároco a uma comunidade toda presbiteral; 3. Da
dimensão cultual para a totalidade das dimensões da comunhão e da missão
da Igreja no mundo.
2.4. A renovação paroquial na América Latina e Caribe.
Há anos se propõe a paróquia como comunidade de comunidades. Puebla
vê na paróquia um lugar de encontro, de fraterna comunicação de pessoas e
de bens. Se encontra inserida entre as casas dos homens.
Aparecida: a multiplicação das comunidades eclesiais menores e a nova
pastoral urbana. Contribuição das CEBs no Brasil. Não se pode poder
comunidade com multidões anônimas dentro de uma paróquia. Faz-se urgente
renovar suas estruturas. A paróquia para muitos é o único espaço de
inserção na Igreja.
2.5. A paróquia como casa.
Comunhão entre as pessoas é a Igreja que está onde as pessoas se
encontram. É a casa – comunidade, onde as pessoas se encontram. A
paróquia pode ser não territorial, ambiental ou de acordo com a escolha
da pessoa.
Paróquia – casa, como lar, ambiente de vida, referência e aconchego
de todos que trabalham pelas estradas da vida. A paróquia pode e deve
ser a casa da acolhida.
- A paróquia é a casa da Palavra, que se torna a casa do discípulo que
acolhe e pratica a palavra. A Igreja escuta, acolhe e vive a Palavra,
sendo a liturgia o lugar privilegiado para essa comunicação.
- A Igreja se nutre com o pão do corpo de Cristo, onde existe a
fraternidade. A eucaristia é fonte inesgotável da vocação cristã e do
seu impulso missionário. Como casa do pão, preciso oferecer pão aos que
tem fome, dizer uma palavra significativa para os que estão em busca de
um sentido para a vida.
- Casa da Caridade – amor ágape. A amizade é o paradigma de todo
relacionamento de Jesus com os discípulos e de Deus com a humanidade.
Essa amizade se traduz em compaixão pelos que sofrem.
2.6. A paróquia hoje.
É o lugar onde o cristianismo se torna visível em nossa cultura e
história. A paróquia está desafiada a se renovar diante das aceleradas
mudanças de nosso tempo. É preciso rever a nossa ação evangelizadora.
Ela é a casa da acolhida dos peregrinos e comunidade como lar dos
cristãos onde se faz a experiência comum de seguir Jesus Cristo. Ela é o
espaço para receber diferentes pessoas, com suas buscas e vivências,
que pretendem seguir o caminho.
É um grupo de pessoas que a partir da fé tem profunda comunhão com
Deus e entre si, fundamento de toda experiência cristã e eclesial.
A paróquia não é principalmente uma estrutura, um território, um
edifício, mas é sobretudo a família de Deus, como uma fraternidade
animada pelo espírito de unidade, é uma casa de família, fraterna e
acolhedora, é a comunidade de fiéis.
CAPITULO III
NOVOS CONTEXTOS: DESAFIOS À PARÓQUIA
A cultura do nosso tempo desafia a novos conceitos... é a mudança de
época. Conhecer a realidade das comunidades paroquiais. É preciso
superar a pastoral da manutenção.
Desafio: superar, ou melhor, criar um plano pastoral. Em muitos
lugares tudo está restrito à catequese e instrução da fé; em outros,
existe uma iniciação cristã, liturgia viva e participativa, presença dos
jovens, ministérios leigos, CPP e CAEP.
É importante identificar os desafios que dizem respeito aos aspectos da pessoa, da comunidade e da sociedade.
3.1 Desafios no âmbito da pessoa.
Hoje existe um grande perigo de fortalecer o individualismo, o
egoísmo e os interesses pessoais. Dali provém as seguintes
consequências:
<<< intimismo religioso – individualismo com acento emotivo
que compromete a vida comunitária. Nesse sentido, nasce uma vivência
religiosa mediática, baseada em sentimentalismo e bem-estar. Experiência
religiosa sem pertença comunitária e sem compromisso. Cresce a
indiferença pelo outro... o que conta é o aqui e agora... a famosa
cultura imediatista.
<<<mudança na família – dificuldade de unir-se no amor e na
fidelidade. Novas configurações de família: juntos sem sacramento,
segunda união, sozinhos com filhos, adotados por solteiros ou mesmo
sexo. A Igreja, família de Cristo, precisa acolher a todos os seus
filhos com amor e usar de misericórdia. Muitos se afastaram por causa de
orientações duras e proibitivas.
3.2. Desafios na comunidade
Diversas concepções de comunidade no mundo de hoje, por exemplo, no
mundo virtual. Essa realidade implica a revisão da ação pastoral na
Igreja.
>>>A nova territorialidade – do físico ao ambiental. A
transformação do nosso tempo prova uma nova concepção dos limites
paroquiais, sem delimitação geográfica. O ser humano atual vive marcado
pela mobilidade e pelo dinamismo de suas relações. O referencial
importante é o sentido de pertença à comunidade e não tanto ao
território. Busca comunidade por causa do movimento, horários
alternativos, um bom pregador, vínculos com uma comunidade religiosa.
Além disso, prefere a vida em rede, onde as relações se estabelecem por
afinidades e não por territorialidade.
É na comunidade que se constrói a identidade comum e é lá onde nascem
os vínculos de convivência. É um lugar de construção comunitária de
experiência cristã. Mas é necessário ampliar o conceito para não
reduzi-lo a um espaço demarcado e estabilizado. Isso exige rever as
estruturas de pastoral. Existem muitas estruturas obsoletas na pastoral.
Uma delas se refere à linguagem, pois faz-se necessário anunciar Jesus
Cristo de modo acessível e atual. Muitas vezes não somos capazes de
estabelecer relações entre a vida dos que creem e o mistério de Deus.
Outro problema é o excesso de burocracia e a falta de acolhida em muitas
secretárias paroquiais. A administração paroquial, muitas vezes, reduz a
função dos presbíteros a administradores da paróquia. Tudo isso exige
uma profunda conversão das pessoas e das comunidades para Cristo.
Entre o relativismo e o fundamentalismo. São sintomas de
desenraizamento e fechamento em relação à comunidade. O relativismo
acaba cegando a pessoa, sem condições para distinguir o certo do errado,
sendo tudo decidido pela consciência do individuo. Surge também o
perigo de perder o sentido do pecado e a necessidade de reconciliação.
Cresce uma postura fundamentalista que impede de perceber o outro como
diferente.
3.3. Desafios da sociedade.
Nova consciência de pertença ao planeta e de integração entre tudo e
todos. Aumentam as propostas de ‘espiritualidade’ da prosperidade e da
felicidade individual. Diminui o interesse pelo bem comum e o
comprometimento solidário.
Há uma forte tendência no mundo para que a sociedade seja laicista e a
religião não interfira na esfera pública. Não se busca mais o
verdadeiro, mas o desejável. A verdade se torna relativa às diferentes
necessidades das pessoas. Cresce a cultura do imediatismo. Apesar de
toda rejeição ao sagrado, o ser humano continua tendo sede de
interioridade. Nessa sociedade, a paróquia e as comunidades, precisam
rever a forma como comunicam a fé publicamente. Muitas vezes a
expressamos de forma tímida, para um tempo que clama pela beleza,
verdade e bondade.
O pluralismo cultural é outro grande desafio. Diversas formas de
pensar, conviver em nossa cultura. Também a religião vive esse
pluralismo. Alguns fiéis católicos frequentam outros cultos e centros
religiosos, buscando conforto para suas dificuldades.
A sociedade, em tempos de mudanças, é marcada pela instabilidade e
pela mobilidade. Muitos buscam novos grupos religiosos, procurando
soluções imediatas para os problemas do cotidiano. O contato com a
realidade exige uma atitude: conversão ao evangelho. É preciso inserir
de modo crítico e construtivo, na nova realidade, tudo aquilo que é
permanente e precioso na tradição cristã. Confrontar-se com a realidade é
reconhecer seus valores e identificar seus limites.
3.4. A urgência da renovação paroquial
As razões para a renovação são muitas: dimi9nuição dos fiéis; poucos
padres; crise do sacramento da reconciliação; afastamento dos jovens.
Está em crise o sentimento de pertença às comunidades e o engajamento
na paróquia. Afetivamente, há pessoas mais ligadas a expressões
religiosas veiculadas por médias católicas. Preferem colaborar
economicamente com as campanhas televisivas do que participar do dizimo
paroquial.
Os desafios são externos e internos à comunidade. De fora, o
individualismo, relativismo, fundamentalismo, pluralismo... de dentro, a
prática de conversão pastoral, enfrentando o problema de
territorialidade paroquial e da manutenção de estruturas obsoletas à
evangelização.
CAPITULO IV
PERSPECTIVAS PASTORAIS
A renovação paroquial depende da atenção dada ao princípio comunitário da fé.
4.1. Recuperar as bases da comunidade cristã.
At 42 – ensinamento dos apóstolos, comunhão fraterna, fração do pão e oração.
A paróquia, como comunhão de comunidades, sente-se desafiada a vencer
a tentação do fechamento e apatia em relação aos outros (convívio,
vínculos profundos, interesses comuns). Tudo isso supõe uma nova relação
de cada pessoa envolvida com a comunidade. Requer pessoas dedicadas ao
testemunho cristão na comunidade/ com ardor renovado por Jesus Cristo. A
comunidade é o lugar da fé e do seguimento de Jesus Cristo.
Critérios: Palavra de Deus como fonte; iniciação cristã; catequese, liturgia; viver o múnus profético, sacerdotal e real.
>>> Viver da palavra: ser comunidade profética.
A Palavra de Deus é a base para enfrentar a situação atual de
pluralismos e incertezas. Faz-se necessário um encontro com a palavra de
Deus. Somente em comunidade e em comunhão com a Igreja, a pessoa poderá
ler a Bíblia sem reducionismos intimistas, fundamentalismos e
ideologias. Todos batizados devem ser iniciados na vida cristã marcada
pela escuta da palavra de Deus. A leitura orante da Bíblia. Outro
desafio está na preparação aos sacramentos. Só haverá revitalização das
comunidades com uma catequese centrada na Palavra de Deus, expressão
maior da animação bíblica da pastoral.
>>> Viver da eucaristia: ser comunidade sacerdotal
A celebração da fração do pão é o ponto alto da vivência pascal das
primeiras comunidades cristãs. Na celebração eucarística, a comunidade
renova sua vida em Cristo. A eucaristia é escola da vida cristã.
Adoração do Santíssimo Sacramento. Sacramento da Reconciliação.
Valorizar mais o domingo, como o dia do Senhor, em que família cristã se
encontra com o Cristo. O domingo pra o cristão é o dia da alegria, do
repouso e da solidariedade. A fé vence o individualismo.
>>> Viver da caridade: ser comunidade do Reino.
O amor ao próximo, radicado no amor de Deus, é um dever de toda
comunidade eclesial. As pessoas tem sede de vida e de felicidade em
Cristo. Jesus é o Senhor da vida e que traz a vida em abundância para
todos. As comunidades paroquiais devem aproximar-se de toda situação
onde a vida estiver ameaçada. A aproximação com os pobres e sofredores
educa a comunidade cristã.
4.2. A comunidade de comunidades
Paróquia é o centro de coordenação e de animação de comunidades, de grupos e de movimentos.
>>> A setorização da paróquia.
Grupos menores que favoreçam uma nova forma de partilhar a vida
cristã. É possível descentralizar o atendimento paroquial. A setorização
é um meio, evitando a concentração de todas atividades na matriz.
Delegar mais aos leigos e religiosos. A setorização é dividida em
pequenos grupos que podem se conhecer e se visitar. Isso poderá ajudar
numa evangelização mais personalizada e aumentar as relações positivas
com outros agentes sociais, educacionais e comunitários.
>>> Integração de comunidades, movimentos e grupos.
Num mundo plural, não existe um único modo de ser comunidade. As CEBs
são alimentadas pela palavra de Deus, pela fraternidade, oração e
eucaristia. Elas são presença junto aos mais simples. Comunidades
cristãs ambientais ou transterritoriais. As escolas podem ser
comunidades dentro das paróquias, assim como as universidades. Presença
de movimentos leigos que se envolvem na pastoral paroquial. A busca de
diálogo entre fé e razão. Presença das novas comunidades de vida e
aliança. Planejamento pastoral, ação do conselho paroquial e do pároco.
>>> Revitalização de comunidade
Será preciso uma verdadeira conversão pastoral de todos. A vitalidade
da paróquia está na animação das diferentes formas de expressar a vida
em comunidade. Estabelecer relações interpessoais que vençam o anonimato
e a solidão. Alegria de se reunir em torno da palavra de Deus, unir a
fé e a vida, viver e celebrar, se alegrar e chorar com o outro, atenção
às pessoas e às suas necessidades. Será o primado do ser sobre o fazer.
4.3. A conversão pastoral
Quem acolhe a Boa-Nova do Reino de Deus muda a sua vida de acordo com
os valores que Jesus viveu e ensinou. Essa nova visão dos
relacionamentos, onde o perdão ocupa o lugar central, supõe uma
conversão que até hoje nos desafia. Uma conversão que proporcione um
encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo. O centro de toda
conversão é Jesus Cristo. Não haverá conversão se não houver um profundo
encontro com Jesus capaz de renovar a pessoa. A conversão pastoral
depende de uma conversão pessoal a Jesus Cristo. A conversão pastoral e
conversão paroquial andam juntas, pois se fundam na experiência de Deus
que as pessoas e as comunidades conhecem.
>>> Conversão dos ministros de comunidade
Jesus Cristo é o bom Bom Pastor que acolhe as pessoas, sobretudo os
pobres. Seu agir revela um novo jeito de cuidar das pessoas. Na
renovação paroquial, todos estão envolvidos: os bispos, em primeiro
lugar; os presbíteros, sobretudo o pároco – ele é um dom para a
comunidade, servidor do povo, acolhendo bem as pessoas, um pai
espiritual. A paróquia há de fazer a diferença no atendimento, começando
pelo padre. O pároco precisa ser um homem de Deus, com profunda
experiência de encontro com Jesus Cristo. Deve cuidar com o excesso de
trabalhos. Atualização do padre, dedicando tempo ao estudo. Requer uma
vivência mais comunitária do ministério, evitando personalismos.
Os diáconos tem papel importante, sobretudo nas obras de caridade da
paróquia. Visitar os enfermos, acompanhar os migrantes. A sua função não
será reduzida a tarefas litúrgicas. Além dos diáconos, a participação
ativa dos leigos. Valorizar as lideranças cristãs; compartilhar as
decisões pastorais e econômicas; multiplicar os diferentes ministérios
nas comunidades. E, por fim, a presença positiva e importante dos
religiosos e das religiosas.
>>> Protagonismo dos cristãos leigos.
Ela deriva do batismo. Reconhecer a diversidade de carismas, serviços
e ministérios leigos. Dos sacerdotes esperam a luz e a força espiritual
4.4. Transformar as estruturas.
Promover reformas não só espirituais, mas também institucionais. A
primazia do fazer ofuscou o ser cristão. É preciso agir para responder
às inquietações novas.
>>> Participação ativa de todos – CPP/CAEP, sem dissonância
entre ambos. É urgente superar a mentalidade que prioriza construções e
obras materiais e abdica de investir na formação das pessoas. A gestão
precisa ser qualificada e transparente. A manutenção também exige novas
posturas. Estabelecer solidariedade entre as paróquias e as comunidades
da diocese. Superar a mentalidade individualista ou corporativista que
poderá existir em algumas pessoas.
A paróquia não pode se separar da vida diocesana. A pastoral deve ser
organizada com as paróquias vizinhas. Manter vínculos afetivos e
efetivos com as paróquias de áreas missionárias, especialmente na
Amazônia.
Deve acontecer a passagem da pastoral de conservação baseada na
sacramentalização, para a pastoral decididamente missionária. Muitos
católicos deixam a Igreja e procuram Deus, que não encontraram na
católica.
4.5. A transmissão da fé: novas linguagens
Na evangelização e na pastoral persistem linguagens pouco
significativas para a cultura atual, especialmente para os jovens. A
juventude mora no coração da Igreja. É preciso promover uma comunicação
mais direta e objetiva, principalmente nas homilias alicerçadas na
Palavra de Deus e na vida.
Comunidade missionária e comunidade acolhedora. Exercer melhor a
acolhida, dialogando e propondo caminhos para aqueles que se sentem
distanciados do caminho. Diante de pessoas afastadas e que procuram a
Igreja, é preciso acolhê-las bem. Acolher bem as pessoas trata-se de uma
atitude misericordiosa da Igreja para com todos.
Necessidade de atitudes ecumênicas. Promova-se, então, o diálogo inter-religioso.
4.6. Proposições
Promover o encontro das pessoas com Jesus Cristo.
<<< Criatividade – usá-la para melhor atender as
pessoas que vivem em diferentes ritmos de vida. Valorizar a beleza e a
simplicidade dos espaços da comunidade, pois o ser humano vive marcado
pela cultura do belo.
>>> Pequenas comunidades – a comunidade menor
favorece os valores do relacionamento interpessoal. A comunidade deve
fazer o seu caminho, sempre unida à palavra, a oração, a comunhão
fraterna e ao compromisso de serviço aos pobres.
>>> Ministérios leigos – dar sólida formação
doutrinal, pastoral e espiritual. Convocação e formação dos leigos das
comunidades com espaço para a participação dos leigos.
>>> Formação – clara e decidida opção pela formação de todos os membros das comunidades. Não basta informar, mas também formar.
>>> Catequese e iniciação cristã. A catequese deve
ser a prioridade na formação, sob a orientação do ritual da iniciação
cristã dos adultos (RICA) e do Diretório Nacional da Catequese.
Percorrendo as diversas etapas: querigma, conversão, discipulado,
comunhão e missão.
>>> Jovens – opção afetiva e efetiva pela juventude garantindo espaços adequados, com atividades, metodologias e linguagens próprias.
>>> Liturgia – real encontro com Cristo. Cuidar da
sua beleza ( cânticos, símbolos, ritos). Não exceder nas falas,
explicações e comentários. Homilia é fundamental, centrada nas leituras
da Bíblia, comprometida com a realidade. Seja breve, sem discursos
genéricos e abstratos. Preparar a homilia com meditação e oração, a fim
de pregar com convicção e paixão. Boa formação dos ministros da palavra.
Valorização da piedade popular.
>>> A caridade – acolher a todos, principalmente
aos que estão a beira do caminho. Marcar presença em todos os dramas da
pessoa, especialmente no momento de luto. Valorizar a família, santuário
da vida.
>>> Perdão e acolhida – sacramento de reconciliação
aos fiéis. Atendimento individualizado. Atender mais as pessoas que
buscam a comunidade. Pastoral da acolhida, da escuta e do
aconselhamento. O dom de escutar para acolher aqueles que procuram a
comunidade. Atrair aqueles que se afastaram da comunidade. Se forem bem
acolhidos, poderão retornar ou ingressar na vida comunitária.
Considerações finais
A paróquia é a grande escola de fé, de oração, dos valores e dos
costumes cristãos. Continua sendo uma referência importante para o povo
cristão, inclusive para os não praticantes. Ali deve fazer o encontro
com Jesus Cristo.
Ela precisa de uma renovação urgente. Nova organização – pequenas
comunidades; setorizada, com ousadia missionária, capaz de fortalecer o
testemunho e estimular o anúncio. Renovar o ministério do pároco, pastor
e animador do povo que lhe foi confiado. Promover a participação dos
leigos nas decisões de comunidade. Integrar as comunidades religiosas,
CEBs, movimentos. Olhar para o futuro da paróquia, como comunidade das
comunidades, com esperança de vencer o vazio e o deserto de muitas
pessoas.
Esse é o tempo oportuno para uma nova evangelização. Há muita sede e, em Cristo, há a água que sacia toda sede humana.
Acreditando que para Deus nada é impossível, é importante vencer o
pessimismo da situação. É hora de renovarmos as paróquias para que se
organizem em comunidades e favoreçam as multiformes manifestações da
vida cristã. Novo entusiasmo por Deus e por seu Reino, uma nova
evangelização.
Somos uma Igreja em caminho que sabe onde deve aportar: a Santíssima Trindade, onde Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,28).
Síntese organizada pelo Pe. André Marmilicz
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